domingo, 15 de fevereiro de 2009

O filme do Benjamim "Botão"



Estávamos em casa, sem nada para fazer, a mesma história de sempre: - Cinema ? - Hum? Que filme ? - Não sei, você quer ver algum ? - Não, a idéia foi sua...
Adoro cinema, ainda mas, última sessão quase meia-noite, poucos casais, umas 1000 calorias em nosso colo, divididos entre 1000 ml de Coca-Cola e um saco gigante de pipoca pingando manteiga derretida.

Em cartaz, algum romancizinho "Mamão com açúcar" que nem prestei atenção, enfim, fui mesmo para comer a pipoca e simplesmente sair de casa, enrolamos no shopping e quando olhamos o bilhete, estávamos atrasados, ainda sem me preocupar, pois sei que pelo menos 10 min. de propagandas, avisos e traillers são um motivo a mais para se buscar pipoca na lanchonete, para a alegria de empresários do cinema e trabalho para nutricionistas de plantão. Quando pisei na sala de projeção tomei um susto, estava lotado, não, não tínhamos sido vítimas de "overbooking", pois podia-se contar 3 ou 4 lugares vagos espalhados pela sala, mas nenhum ao lado do outro, a solução foi a cadeira para deficiente na 1° fileira, ela na poltrona e eu ali no chão frio e grudado na tela para ver o filme, minha alegria foi que mais 2 casais estavam na mesma situação.

Começa a rodar, década de 20 ou 30, o nascimento de um bebê, filme narrado por 3° pessoa, uma mulher a beira da morte, escutando a leitura do diário de Benjamin por sua filha, a essa altura já imaginei que essa velhinha moribunda devia ser o grande amor de Benjamim Button, meio clichê tudo até aqui, até me lembrei de Titanic, mas o desenrolar da história mostra mais profundidade, até chegar ao descobrimento do amor de verdade, aquele que atravessa a vida, aquele que é puro, e resiste ao tempo, um velho que irá ficar jovem, uma adolescente que ficará velha. Cada um caminhando em direções opostas na linha do tempo da vida, até se encontrarem no meio do caminho, para viver aquela mesma lenga-lenga da maioria dos filmes, o amor romântico, o amor impossível ou o amor idealizado, nesse momento, comecei a ter cãibras nas pernas, pois ali estava nesta posição há mais de 2 horas, o grande desenrolar da história acontece mesmo após o romance dos dois, o homem cada vez mais jovem e a mulher cada vez mais velha, até o homem se tornar um bebê e morrer nos braços da amada.

Fiquei ali pensando nisso, dias, meses, nesse sentido da vida, nessa linha do tempo ascendente que vivemos, por que dessa maneira ? Por que a morte para pôr fim a essa existência? Essa percepção temporal, nos coloca diante de grandes dilemas, nosso corpo vai se debilitar ao longo do tempo, dizer que temos que aproveitar a vida, soa muito clichê, aliás, essa vontade de achar resposta em tudo é clichê.
Se pudéssemos fazer tudo de novo ? Se já nascêssemos com experiência ? Se já soubéssemos todos os caminhos certos ?
Não, não temos respostas, temos perguntas, nossa vida é mais perguntas do que respostas.

Me levantei, 3 horas antes havia sentado naquele chão, sem estar pensando em nada disso, sai de lá com mais algumas perguntas, para se juntar as tantas outras que fazemos em nossa vida.
Foi só um filme, mais um blockbuster, mais um final de semana, mais 1000 calorias, mais 3 horas de projeção, mais um dia na linha do tempo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Fala o que achou, pode xingar, elogiar...