quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Ideologia na música



Encontrei este clipe sobre a ditadura no Youtube, a música "Cálice" é uma velha conhecida, apesar de facilmente ser percebido sua dualidade de sentidos, na epóca esta passou incólume pela censura, havia algo forte, visceral, que desapareceu juntamente com a ditadura, e por isso pergunto:


Quem morreria hoje por seus ideais ?


Cálice

Chico Buarque

Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue

Como beber dessa bebida amarga
Tragar a dor, engolir a labuta
Mesmo calada a boca, resta o peito
Silêncio na cidade não se escuta
De que me vale ser filho da santa
Melhor seria ser filho da outra
Outra realidade menos morta
Tanta mentira, tanta força bruta

Como é difícil acordar calado
Se na calada da noite eu me dano
Quero lançar um grito desumano
Que é uma maneira de ser escutado
Ese silêncio todo me atordoa
Atordoado eu permaneço atento
Na arquibancada pra a qualquer momento
Ver emergir o monstro da lagoa

De muito gorda a porca já não anda
De muito suada a faca já não corta
Como é difícil, pai, abrir a porta
Essa palavra presa na garganta
Esse pileque homérico no mundo
De que adianta ter boa vontade
Mesmo calado o peito, resta a cuca
Dos bêbados do centro da cidade

Talvez o mundo não seja pequeno
Nem seja a vida um fato consumado
Quero inventar o meu próprio pecado
Quero morrer do meu próprio veneno
Quero perder de vez tua cabeça
Minha cabeça perder teu juízo
Quero cheirar fumaça de óleo diesel
Me embriagar até que alguém me esqueça


Mas falar em músicas na epóca da ditadura sem falar de Geraldo Vandré é impossível,sua música “Caminhando (Pra Não Dizer Que Não Falei das Flores)”,
foi uma das responsáveis pela imposição do AI-5 em 1968.

Encontram-se várias versões desta bela canção, inclusive encontrei uma com o Charlie Brown Jr., mas acredito que um cara que ajuda vender coca-cola e faz música para a novelinha teen da rede Globo não tem "envergadura moral" para cantar esse hino, prefiro o próprio Geraldo, o Zé Ramalho ou ainda a Simone, que mesmo tendo cometido alguns deslizes, foi em um show seu que a música foi ressuscitada, após quase uma década de sua proibição pela censura.




Pra Não Dizer Que Não Falei Das Flores

Geraldo Vandré

Caminhando e Cantando e seguindo a canção
Somos todos iguais braços dados ou não
Nas escolas, nas ruas, campos, construções
Caminhando e Cantando e seguindo a canção

Vem, vamos embora que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora não espera acontecer
Vem, vamos embora que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora não espera acontecer

Pelos campos a fome em grandes plantações
Pelas ruas marchando indecisos cordões
Ainda fazem da flor seu mais forte refrão
E acreditam nas flores vencendo o canhão

Há soldados armados, amados ou não
Quase todos perdidos de armas na mão
Nos quartéis lhes ensinam uma antiga lição
De morrer pela pátria e viver sem razão

Nas escolas, nas ruas, campos, construções
Somos todos soldados armados ou não
Caminhando e cantando e seguindo a canção
Somos todos iguais braços dados ou não

Os amores na mente, as flores no chão
A certeza na frente, a historia na mão
Caminhando e cantando e seguindo a canção
Aprendendo e ensinando uma nova lição



A ditadura caiu, começamos a ouvir falar em uma tal de democracia, nessa mesma época apareceu um burguês anti-burguês, que cantou grandes canções, mas passou longe do exemplo de bom moço, esse moço cantou a propriamente dita "Ideologia". Mas havia mesmo ideologia fincadas em suas entranhas ?

Pelo menos ele não ficou em cima do muro.



Ideologia

Cazuza

Meu partido
É um coração partido
E as ilusões
Estão todas perdidas
Os meus sonhos
Foram todos vendidos
Tão barato
Que eu nem acredito
Ah! eu nem acredito...

Que aquele garoto
Que ia mudar o mundo
Mudar o mundo
Frequenta agora
As festas do "Grand Monde"...

Meus heróis
Morreram de overdose
Meus inimigos
Estão no poder
Ideologia!
Eu quero uma prá viver
Ideologia!
Eu quero uma prá viver...

O meu prazer
Agora é risco de vida
Meu sex and drugs
Não tem nenhum rock 'n' roll
Eu vou pagar
A conta do analista
Prá nunca mais
Ter que saber
Quem eu sou
Ah! saber quem eu sou..

Pois aquele garoto
Que ia mudar o mundo
Mudar o mundo
Agora assiste a tudo
Em cima do muro
Em cima do muro...

Meus heróis
Morreram de overdose
Meus inimigos
Estão no poder
Ideologia!
Eu quero uma prá viver
Ideologia!
Prá viver...

Pois aquele garoto
Que ia mudar o mundo
Mudar o mundo
Agora assiste a tudo
Em cima do muro
Em cima do muro...

Meus heróis
Morreram de overdose
Meus inimigos
Estão no poder
Ideologia!
Eu quero uma prá viver
Ideologia!
Eu quero uma prá viver..
Ideologia!
Prá viver
Ideologia!
Eu quero uma prá viver...


E o que nos restou ???




5 comentários:

  1. Desculpa pela demora no comentário mas meu pc pegou vírus e não conseguia entrar no seu blog.

    Tempos de ideologia e de ideáis que não existe mais...hoje parece q não vale mais a pena brigar e gritar.

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  2. Pois é, nos restaram as mulheres frutas e junto delas a futilidade que representa os dias atuais!

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  3. Muito pertinente essas canções. Toda vez que eu penso em ditadura, lembro logo da música do Vandré.
    A ditadura foi um capitulo triste em nossa história. Muitos morreram na luta pelo livre pensamento, outros foram presos e torturados e outros tiveram que fugir para outro país.

    Apesar da música "Ideologia", cantada por Cazuza, ter sido feita em um momento mais "light", acredito que apesar de ter sido um eterno adolescente com atitudes inconsequente, Cazuza tinha uma ideologia libetária. As músicas do Cazuza invariavelmente são ainda atuais.

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  4. Vi "Cálice" e me interessei pelo post, daí comecei a ler e me aparecem "Pra não dizer que não falei das flores" e "Ideologia"! Wow!
    Não precisa de mais nada, né?
    Sou fascinado por essas músicas da época dos festivais.
    Já me perguntei muitas vezes o porquê de as gerações atuais não se mexerem, trocarem a revolta contra problemas que estão na nossa cara pela calmaria de uma vidinha medíocre e em paz.
    Adoramos apontar os erros da sociedade, mas o que fazemos para mudar isso? (Sim, um belo exemplo talvez sejam esses nossos blogs, ou mesmo esse meu comentário)
    Invejo, e muito, as gerações que se revoltaram e mudaram algo ou, se não, ao menos tentaram a mudança.

    Abraços

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  5. Rodrigo, fiz uma referência a esse post lá no meu blog.

    Espero que goste e não se importe ;D

    http://insanoraciocinio.blogspot.com/2009/02/geracao-de-mortos.html

    Abraços

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